quarta-feira, 6 de julho de 2011

De meus debates em um site de ex-colegas de ensino ginasial e colegial

Meus caros que estão neste debate, especialmente Haroldo:
Concordo inteiramente com você (Haroldo) quando fala das universidades e de todo o processo de desenvolvimento que não são capazes – no meu ponto de vista, por falta de planejamento de longo prazo – de organizar o presente para construir o futuro. Mas nosso enfoque era o ensino básico. Este precisa ajudar as pessoas a pensarem, a desenvolverem consciência crítica, a serem autônomas, a serem criativas, a compreenderem a natureza, a serem capazes de compreender os processos culturais e sociais e a interagir dentro deles. Não podemos, porque é eticamente insustentável e operacionalmente impossível, especializar todos em todas as disciplinas – umas 830 – e limitar o conhecimento para poder fazê-lo é desastroso. Precisamos oferecer à universidade e à sociedade pessoas capazes de ousar, que tenham amplas perspectivas, que possam estudar seriamente. Já estava escrevendo “como nós”, mas logo desisti. En passant, convém dizer que ninguém aprende nada sem interesse e, repetindo Piaget, sem atividade, seja física ou mental; não adiantam castigos, vestibulares difíceis, suspiros amorosos... tudo passa em três meses. De novo ia escrever “como em nós”, mas desisti.

A segunda observação é que não podemos livrar-nos da ideologia e que a ideologia que adotamos não precisa ser aquela que favorece a nossa classe. A ideologia, não sendo aquela perversa de que fala Marx que não está conosco, é a inclinação para aceitar umas verdades e deixar outras de lado. Ela depende muito mais de nossas experiências do que do nosso saber. Uma inclinação a aceitar as causas dos pobres é ideologia, um direcionamento em ouvir as teses a favor dos ricos é ideologia. Dizia-se de um arcebispo brasileiro – santo homem – que era um pobre que optara pelos ricos. Optar pelos pobres em educação é buscar modos de organizar o ensino (falo só do BÁSICO) de modo que os que não tenham o capital cultural da classe média e da classe rica possam avançar na escolaridade. Hoje não podem e isto não é intuição minha – são os dados que mostram isto. Do ponto de vista pedagógico-didático (há os problemas sociais, mais graves, mas de difícil ou pelo menos mais demorada possibilidade de intervenção) os cavaleiros do apocalipse pedagógico são as disciplinas e as séries, o conteúdo pobre, formal e desinteressante, a nota e o professor falando o tempo todo; talvez devesse acrescentar o medo dos professores de usar o computador (melhor, o IPAD – estou num grupo que tralha nesta direção, ver www.ipadnasaladeaula.com.br)

Sei que você (Haroldo) vai me xingar por este final, mas é o que descobri em meus estudos, onde também se inclui muita experiência. E debater é da vida, é necessário. Invejo o Monlevade que está no nascedouro das transformações educacionais que virão.

Danilo

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