PLANEJAMENTO:
DO SENSO COMUM À CIÊNCIA
O
planejamento é inerente ao ser humano. Todos planejamos todos os dias. E isto
não tem um começo definido: desde que surgiu, o ser humano, por natureza,
sempre enfrentou esta tensão entre fins e meios, saindo vencedor desta
verdadeira guerra de sobrevivência; alcançou isto através dos três momentos do
planejamento: definir claramente o que se quer, estudar a realidade e propor
uma prática para transformar esta realidade.
Mas este planejamento natural é exercido pelo ser humano
quase sempre numa postura operacional: alguma coisa tem que ser feita e os
humanos fazem planos para fazê-la bem e, assim, obter os resultados que
desejam, quase sempre resumidos em satisfazer necessidades próximas, imediatas,
limitadas pelo curto ou curtíssimo prazo. Isto segue em nossas vidas e em
nossos empreendimentos nos dias de hoje; fazemos isto guiados, quase sempre,
pelo senso comum, e menos pela ciência ou por uma ideologia consciente.
Esta dimensão operacional é a da empresa que vai
construir uma ponte para o governo. Terá que fazer um plano que responda às
perguntas: com quê, como, quando... Será um plano que levará em conta dimensões
técnicas, a elas se limitando. Mas quem encomendou a ponte fez um plano (às vezes
deveria fazer e não fez), respondendo a outras questões: o que fazer e,
sobretudo, para que fazê-lo. Este segundo tipo de planejamento necessita
incorporar ideias, pelo menos as de bem-estar das pessoas, as de
desenvolvimento, as de justiça; enfim terá que considerar questões políticas
(no sentido da construção da ‘polis’) e sociais.
As questões do científico – para a construção de uma
metodologia; do estratégico – combinado com o médio e o longo prazo; e do
participativo – motivado, primeiro, pela necessidade do trabalho
interdisciplinar – aparecem tardiamente no planejamento, tudo construção do
século vinte.
Os vencedores da Revolução Comunista na União Soviética
são, provavelmente, os pioneiros do planejamento com duas características
extremamente apreciadas hoje: a preocupação com o médio e o longo prazos,
através de elaboração de planos quinquenais e decenais, e a tentativa
incipiente de buscar uma metodologia científica para o processo de
planejamento. O que o final do século vinte agrega a isto, após as reflexões e
as lutas posteriores à segunda grande guerra, é o valor da participação para
contrapor-se ao autoritarismo daquele começo soviético e da sequência da mesma
atitude pelos governos.
Então resta uma tarefa grandiosa para as sociedades atuais
(talvez a escola deva assumir a dianteira): a) construir referenciais de
sociedade e de educação, lançando-os para o futuro – isto é ter visão
estratégica, isto é elaborar um projeto político-pedagógico – realizando as
ideias desses referenciais, aos poucos, nas mais diversas realidades; b)
construir processos de participação real, dimensionada e controlada pelo poder,
quando se tratar de entidade privada, que tem dono, mas total, como
participação no poder quando for o caso de instituição pública.
Note-se que estas duas dimensões, a do estratégico e a do
participativo, são extremamente educativas, em qualquer idade; educar-se, é,
evidentemente, construir uma identidade própria, junto aos grupos aos quais se
pertence e apropriar-se de instrumentos para participar utilmente na sociedade.
Como isto não pode ser feito sozinho, mas só no relacionamento organizado com
outros, a participação é essencial e deveria ser a preocupação número um de
todos os educadores; a visão estratégica, por outro lado, é a possibilidade de
tornar denso o processo de planejamento, fazendo dele, um processo educativo
porque desafia, a cada momento, a que se viva, dialeticamente, a tensão entre o
presente e o futuro, entre o técnico e o político, entre o curto e o médio e
longo prazo.
É preciso acrescentar, também, que o planejamento ao
desdobrar-se, metodologicamente, no processo científico, ilustra e firma um
modo educativo de compreender e de transformar a realidade.
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