DIAGNÓSTICO E MARCO
SITUACIONAL
Começa-se a trabalhar com planos num
processo de planejamento científico logo após a revolução comunista de 1917 e,
depois, no capitalismo, sobretudo, logo após a segunda guerra mundial. Há, como
base técnica, duas características fundamentais que devem ser consideradas: a) quase
todos pensavam que o horizonte, isto é, o ideal humano, estava estabelecido –
era o progresso material das sociedades; b) portanto, planejar era pôr em
prática (operacionalizar) as ideias que já estavam estabelecidas[1].
Estas duas premissas foram integradas ao planejamento, tanto no campo comunista
como em solo capitalista. Elas têm um reforço quando a guerra fria põe, no
campo de visão dos povos, o horizonte que dizia que o mais importante era estar
à frente do inimigo em qualquer aspecto do fazer humano.
Como consequência, os planos começavam
com um diagnóstico, pois já estavam estabelecidos os referenciais e os
critérios para julgar a realidade. Planejar era, então, descobrir os problemas
que a realidade apresentava em relação ao padrão estabelecido e propor a
prática para resolvê-los. Ainda pode ser assim em algumas práticas humanas como
a de consertar um automóvel que tem seu padrão estabelecido pelo fabricante ou
a de uma escola, de uma igreja, de um governo onde não seja possível pensar
diferentemente do que está estabelecido, o que ocorre em dois casos, o de uma
sociedade homogênea no pensamento e o de uma sociedade autoritária por força de
algum tipo de ditadura.
Mas, para uma civilização que
comporta o pluralismo, que julga serem as diferenças uma riqueza e não um
empecilho, já não pode ser assim. Num mundo de múltiplas facetas e de
pensamentos divergentes, até empresas industriais, comerciais e de serviços – e
muito mais os órgãos dos governos e as instituições que chamamos de sociais –
precisam deixar mais claros seus horizontes, seus ideais, as contribuições que
querem deixar para a humanidade. E isto significa começar o plano pela proposta
de um referencial, ou seja, de um projeto político e de um operativo que
definam sua identidade desejada e que sirva para o longo ou, pelo menos, para o
médio prazo.
Contudo, é sempre necessário começar
um plano de médio ou longo prazo por um olhar sobre a realidade, não como um
diagnóstico – julgamento sobre a realidade e sobre a prática à luz dos
critérios do referencial escolhido – mas como marco situacional – sentimento
que o grupo da instituição tem sobre a realidade global, especialmente em relação
aos desafios que ela apresenta. O diagnóstico é uma operação científica de
avaliação, o marco situacional é um sentir sobre o que não está bem. O marco
situacional é o que você diz ao médico, isto é, aquilo que você sente como
mal-estar, como problema; mas isto não é diagnóstico. O diagnóstico é o que o
médico diz sobre seu estado, à luz do referencial que ele tem de saúde; é o
juízo que ele faz sobre a realidade que você apresenta e sobre as circunstâncias
que a cercam.
[1] Em outro lugar falo das outras duas características da
primeira grande onda do planejamento científico: ser autoritário (vir de cima
para obrigar os órgãos debaixo) e fixar-se no econômico.
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