quinta-feira, 24 de julho de 2014

SEMPRE ÀS TERÇAS Hoje é quinta, dia 24 de julho de 2014. Estive, desde domingo no interior gaúcho falando aos professores e hoje irei a Itaboraí num congresso do município.


DIAGNÓSTICO E MARCO SITUACIONAL

            Começa-se a trabalhar com planos num processo de planejamento científico logo após a revolução comunista de 1917 e, depois, no capitalismo, sobretudo, logo após a segunda guerra mundial. Há, como base técnica, duas características fundamentais que devem ser consideradas: a) quase todos pensavam que o horizonte, isto é, o ideal humano, estava estabelecido – era o progresso material das sociedades; b) portanto, planejar era pôr em prática (operacionalizar) as ideias que já estavam estabelecidas[1]. Estas duas premissas foram integradas ao planejamento, tanto no campo comunista como em solo capitalista. Elas têm um reforço quando a guerra fria põe, no campo de visão dos povos, o horizonte que dizia que o mais importante era estar à frente do inimigo em qualquer aspecto do fazer humano.

            Como consequência, os planos começavam com um diagnóstico, pois já estavam estabelecidos os referenciais e os critérios para julgar a realidade. Planejar era, então, descobrir os problemas que a realidade apresentava em relação ao padrão estabelecido e propor a prática para resolvê-los. Ainda pode ser assim em algumas práticas humanas como a de consertar um automóvel que tem seu padrão estabelecido pelo fabricante ou a de uma escola, de uma igreja, de um governo onde não seja possível pensar diferentemente do que está estabelecido, o que ocorre em dois casos, o de uma sociedade homogênea no pensamento e o de uma sociedade autoritária por força de algum tipo de ditadura.

            Mas, para uma civilização que comporta o pluralismo, que julga serem as diferenças uma riqueza e não um empecilho, já não pode ser assim. Num mundo de múltiplas facetas e de pensamentos divergentes, até empresas industriais, comerciais e de serviços – e muito mais os órgãos dos governos e as instituições que chamamos de sociais – precisam deixar mais claros seus horizontes, seus ideais, as contribuições que querem deixar para a humanidade. E isto significa começar o plano pela proposta de um referencial, ou seja, de um projeto político e de um operativo que definam sua identidade desejada e que sirva para o longo ou, pelo menos, para o médio prazo.

            Contudo, é sempre necessário começar um plano de médio ou longo prazo por um olhar sobre a realidade, não como um diagnóstico – julgamento sobre a realidade e sobre a prática à luz dos critérios do referencial escolhido – mas como marco situacional – sentimento que o grupo da instituição tem sobre a realidade global, especialmente em relação aos desafios que ela apresenta. O diagnóstico é uma operação científica de avaliação, o marco situacional é um sentir sobre o que não está bem. O marco situacional é o que você diz ao médico, isto é, aquilo que você sente como mal-estar, como problema; mas isto não é diagnóstico. O diagnóstico é o que o médico diz sobre seu estado, à luz do referencial que ele tem de saúde; é o juízo que ele faz sobre a realidade que você apresenta e sobre as circunstâncias que a cercam.



[1] Em outro lugar falo das outras duas características da primeira grande onda do planejamento científico: ser autoritário (vir de cima para obrigar os órgãos debaixo) e fixar-se no econômico.

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