terça-feira, 1 de julho de 2014

SEMPRE ÀS TERÇAS Hoje é terça, 01 de julho de 2014

A ESCOLA E O PROGRESSO DA SOCIEDADE

        A opinião pública sempre se espanta quando a mídia diz que o ensino no Brasil é de baixa qualidade e divulga estatísticas que deveriam ser do conhecimento cotidiano de autoridades educacionais, conselhos de educação e de estudiosos da escola brasileira. E as palavras são sempre as mesmas: a quase totalidade das vozes diz que só é possível crescer economicamente se melhorarem as condições da educação e algumas alertam para o fato de que o progresso ético e social também depende da escolarização.
        Iludem-se, assim, as pessoas e, pior, produz-se um discurso ingênuo, muito prejudicial porque atrapalha a visão correta dos fatos. Não se percebe ou deliberadamente se esconde o que a pesquisa já demostrou com grande exuberância: a escola é consequência da sociedade na qual está inserida; ela existe para reproduzir a sociedade; como resultado, a escola não pode ser muito melhor do que a sociedade dentro da qual ela existe.
        Assim, se analisarmos as estatísticas relativas às condições sociais e econômicas do povo brasileiro, veremos que elas coincidem exatamente com as estatísticas educacionais. Para resumir, grosseiramente por premência de espaço, os ricos vão muito bem na escola, os remediados, mais ou menos e os pobres vão mal.
Para que se criam escolas? Para ajudar na "integração das crianças e dos adolescentes à cultura da sociedade". O papel da escola é ajudar as crianças a se constituírem consciências dentro de uma sociedade e não o de produzir marginalizados, seja no bom ou no mau sentido. Então, a reprodução feita pela escola é algo a ela inerente e não um mal, do capitalismo ou de outro regime.
O grande erro, aquele sobre o qual deve haver imediata ação, é ser a escola pior do que a sociedade na qual está inserida. Não pode ser muito melhor, por sua própria natureza, mas não precisaria ser pior. No Brasil (e, em geral, no mundo) ela é pior porque é menos democrática do que a sociedade brasileira e porque não consegue abrir os horizontes do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades. De fato, reproduz, quase exclusivamente, as tendências mais castradoras da sociedade; teóricos escrevem livros sobre “impor limites”, como se a educação devesse ser um processo de diminuição vital, e as autoridades educacionais buscam escravizar os educadores com regras, regulamentos... Por outro lado, enquanto a sociedade brasileira, pelo menos parte dela, trabalha questões importantes da vida e do planeta, na imprensa, na política, nos encontros e debates, a escola se esclerosou em conteúdos preestabelecidos e sem significado para não especialistas, isto tudo corroborado por avaliações e séries classificatórias, por metodologias da fala exclusiva do professor e, sobretudo, por processos de entrada na universidade destituídos de qualquer eficácia a não ser a de levar o ensino básico a grosseiras caricaturas da ciência.
Se é inexorável que a escola reproduza a sociedade, não estão preestabelecidos, a não ser pelo desejo das pessoas, os elementos que ela deve reproduzir. Pode reproduzir liberdade, participação, coerência, justiça, consciência crítica, amor e esperança porque isto já se encontra na sociedade, embora com menor alarde do que seus opostos. Para reproduzir tais valores, porém, é necessária uma revolução nos conteúdos, na metodologia, na avaliação e nas estruturas escolares.
Hoje dispomos até de uma ferramenta para construir, coletivamente, estas opções: o projeto político-pedagógico é, na essência, o documento que diz o que a escola – cada uma, não há outro modo – quer reproduzir. Para transformar essas escolhas em realidade transformadora, o Planejamento Participativo oferece conceitos, modelos, técnicas, instrumentos e perspectivas adequadas.

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