EDUCAR-SE
(Este texto foi escrito para um boletim paroquial, onde foi publicado. Não se dirige especificamente a educadores, mas principalmente a pais e mães)
Li uma crônica de um jornalista em que ele se gabava
de ser um bom educador. Contava que seu filho, depois que chegou aos 16 anos,
queria pegar o carro e sair dirigindo. Apesar da insistência do menino que
chegava a brigas, ele nunca o deixou fazer isto, o que, segundo ele, mostra que
ele foi um pai educador porque sabia impor limites.
De minha parte, penso que não. Conheci vários jovens
entre 16 e 18 anos que, apesar da vontade de dirigir, nunca pediram aos pais
esta permissão nem dirigiram carros de amigos. Tinham clareza de que não lhes
era permitido pela lei e que isto tinha que ser respeitado, mesmo que custasse
mal-estar.
No primeiro caso, tentava-se uma imposição, um
autoritarismo explícito. No segundo, o respeito à regra vinha de uma convicção
nascida de um processo educativo começado antes da concepção. O filho do jornalista tinha sido submetido a um processo de "ser educado por alguém"; os outros adolescentes citados estavam em processo de educar-se.
Esta é a diferença fundamental de perspectiva de quem
se relaciona com adolescentes e crianças: uns querem educar, outros querem
relacionar-se no diálogo, buscando a verdade. De fato, educar não é impor
limites; isto é domesticar, coisa que nunca dá certo com humanos. É o que diz
Paulo Freire: “ninguém educa ninguém”. O que podemos fazer com as crianças e
com os adolescentes é ajudá-los a se educarem. Na mesma frase em que Paulo
Freire diz que querer educar é domesticar, ele acrescenta com grande sabedoria:
“ninguém se educa sozinho”. E aqui entramos nós, principalmente pais,
professores e ministros religiosos. De fato, Paulo Freire acrescenta: “todos
nos educamos em nosso relacionamento, com a prática sobre a natureza e dentro
da cultura de nossa sociedade”.
A primeira conclusão é que ajudar a educar-se é
propor horizontes; afinal, não somos responsáveis pelos atos daqueles que
pensamos dever educar. Por isso, há três atitudes fundamentais para quem deseja
ajudar na educação dos que são próximos e ser ajudado(a) por eles: * amá-los de
verdade, tipo estou contigo e não abro; * deixar muito claro, sempre, em que se
acredita, sobretudo ter firmeza no que se julga certo ou errado, sem, contudo,
fugir do diálogo; * estar aberto(a) a educar-se em qualquer relacionamento,
incluindo aí o que tem com crianças.
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